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Para Caio F.

Querido Caio F.,

Olho nos teus olhos impressos na capa deste livro. Eles me contam de um amor profundo à vida. Não um amor de praia sem ondas, calmaria, mas um amor de mar revolto. Neste mar dos teus olhos, eu vejo a sabedoria da impermanência da vida, um medo de que ela seria curta e de que tu não terias todo o tempo que merecias para viver neste plano. Talvez por isso tuas íris tinham cor de plátano, de quem quer viver tudo que merece viver. Olhos vivos de palavras que tinham um desejo profundo de registrar tudo: teus sentimentos, afetos, amores, e até mesmo as pequenas coisas do dia-a-dia. Tu escrevestes cartas para que nenhuma palavra se perdesse e perecesse nas linhas telefônicas. Tenho em mãos um pouco da tua eternidade. Eu me pergunto, vertiginosa, quantas histórias teus olhos escreveram mas as mãos não registraram? Eu te olho e vejo um coração gigante, querendo abraçar o mundo. Um coração que pega o meu pelas mãos e diz: “olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar de remar também.” Eu e você, em dois barcos furados, em tempos diferentes, no mesmo rio. Você sussurra no meu ouvido que a inquietude é a vida em movimento. Que está tudo bem endurecer, mas que sempre posso encontrar o caminho de volta para andar de braços abertos, viver a humanidade do corpo e escolher a vida. Tem dias que são polisipos, de pausa na dor. Você me oferece uma rosa com o cheiro da noite, brilho de estrelas e espinhos que furam. Com ela, um bilhete: “a vida não é adiável, a vida é hoje”. Eu te respondo, aonde quer que tu estejas, vem aqui tomar um mate e me conta das tuas ideias para mudar o mundo. Dentro dos teus olhos eu passeio por campos de alecrim que você plantou enquanto vivia para dentro de ti. Estamos amanhecendo. Como um girassol, tu vivestes tua mais brilhante vida.  

Obrigada pela tua presença. Com amor,

Bruna

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