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Querida Clarice,

Homens-bolha

Cartas poéticas para Clarice Lispector

Carta 4


Querida Clarice,
Estou te escrevendo para desabafar
O mundo está doido e doído
Aqui falta empatia
Falta senso de coletividade
Há muitos homens-bolha andando por aí
Nunca estamos abortados deste mundo
Somos seres no mundo e do mundo
Somos seres com outros seres
Ninguém vive numa bolha
Por mais que assim se entenda
Me desculpa por escrever o óbvio
Mas estes são tempos em que o óbvio tem que ser dito, re-dito, escrito, gritado, tatuado...
Nossas atitudes impactam todo mundo
Um bater de asas aqui
Pode gerar um furacão lá
Não, não temos controle sobre nada
Mas podemos pelo menos lembrar
Que por algumas coisas podemos responder
Mas a bolha é à prova de responsabilidade
Dá vontade Clarice,
De pegar um foguete
Está difícil compartilhar este mundo
Com quem acha que o mundo
é feito só do seu umbigo
Protegido por essa bolha opaca
Essa bolha que cega
E tem a síndrome do "já que"
Você conhece, Clarice?
Já que está tudo aberto...
Já que as leis relaxaram...
Já que está todo mundo fazendo...
A bolha é à prova de senso crítico
É confortável viver na bolha
Mas eu ainda prefiro a dor
e a lucidez
de estar fora dela
É triste, Clarice
Nem uma tragédia tão grande
É capaz de abrir os olhos
e o coração das pessoas
É capaz de furar a bolha
Eu quero fazer escrita alfinete
por Bruna Berger Roisenberg

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